.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Aperfeiçoando o dom da escuta da vontade de Deus

“Aquele que fala em línguas não fala aos homens, senão a Deus: ninguém o entende, pois fala coisas misteriosas sob a ação do Espírito. Aquele que fala em línguas edifica-se a si mesmo.” (I Cor 14, 2.4)
“Outrossim, o Espírito vem em auxílio à nossa fraqueza; porque não sabemos o que devemos pedir, nem orar como convém, mas o Espírito mesmo intercede por nós com gemidos inefáveis. E aquele que perscruta os corações sabe o que deseja o Espírito, o qual intercede pelos santos segundo Deus.” (Rom 8,26-27)
Maria Beatriz Spier Vargas, secretária-geral do Conselho Nacional da RCC, enviou-nos uma partilha sobre a experiência da novena de oração em línguas. Veja a seguir como lhe veio esta inspiração e a forma de fazer a novena: “Um dia, preparando uma pregação sobre oração em línguas, senti a moção de fazer uma novena de oração em línguas. Sinto alegria em partilhar com vocês essa novena, porque tenho experimentado muitos benefícios na minha vida pessoal e na minha missão através dela. Também as pessoas a quem a ensinei, dão testemunho de muitas graças", conta.
Tenho observado, principalmente, dois frutos ao fazer a novena. O primeiro, mas não necessariamente o mais importante, é o do exercício do próprio dom. À medida que nos abrimos ao dom das línguas, o próprio Espírito vai renovando o dom em nós e passamos a orar em línguas com uma unção nova. O segundo benefício, ou fruto, dessa novena é que ela desenvolve de maneira especial o dom da escuta da vontade de Deus. Se você tem uma decisão importante a tomar, um discernimento a fazer, eu aconselho a novena. Deus se revela, Ele fala de maneira muito específica, com instruções muito claras, orientando o nosso discernimento.”
COMO FAZER A NOVENAInicie  agradeçendo a Deus por esse dom maravilhoso. Depois tome consciência de que quando você ora em línguas é o próprio Espírito Santo que intercede ao Pai, em nome de Jesus, por você, por essa situação que você está apresentando.
O Espírito Santo, que perscruta os corações, sabe o que está no seu coração, mas conhece também  o desejo do coração do Pai, e o desejo do coração do Pai é que o nome de Jesus seja glorificado.
Então, enquanto o Espírito Santo usa suas cordas vocais, seu aparelho fonador, sua voz, seus lábios para interceder por você ou por essa situação, seja o que for que  precisa acontecer para que o nome de Jesus seja glorificado, para que Jesus tenha a vitória sobre a vida apresentada na oração, é isso mesmo o que o Espírito Santo estará pedindo ao Pai. Ao orar em línguas mantenha isso no seu pensamento.
A seguir, você começa a orar: no primeiro dia cinco minutos, no segundo dia dez minutos, no terceiro quinze minutos, e assim por diante, cada dia aumentando a oração em cinco minutos, até chegar ao nono dia, quando você vai orar em línguas por quarenta  e cinco minutos.
É importante manter um caderno ou papel e lápis ou caneta junto de você enquanto ora. Quando você sentir uma moção do Espírito comece a escrever. Depois, ao reler o que você escreveu  você ficará espantado de ver que você não teria pensado nessa solução para o problema, ou pensado em conduzir as coisa desta forma. Ao reler o que você escreveu você verá que foi o próprio Espírito Santo se revelando a você.
Convido você a fazer esta linda experiência da escuta de Deus e que ela produza na sua vida os maravilhosos frutos que tem produzido na minha.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Como se relacionar com Deus? - Parte 2


Conhecer a Deus passa necessariamente por sua Palavra. São Jerônimo chega a dizer que “ignorar as Escrituras é ignorar a Cristo”. O Magistério, citando Santo Ambrósio, nos ensina: “Lembrem-se, porém, que a leitura da Sagrada Escritura deve ser acompanhada pela oração a fim de que se estabeleça o colóquio entre Deus e o homem; pois ‘a Ele falamos quando rezamos; a Ele ouvimos quando lemos os divinos oráculos’” (DV 25). “Nos Livros Sagrados, com efeito, o Pai que está nos céus vem carinhosamente ao encontro de seus filhos e com eles fala. E é tão grande o poder e a eficácia que se encerra na Palavra de Deus, que ela constitui sustentáculo e vigor para a Igreja, e, para os seus filhos, firmeza da fé, alimento da alma, pura e perene fonte de vida espiritual” (DV 21).
Conhecer a Deus passa também por conhecer e venerar igualmente a Tradição da Igreja. “Para que o Evangelho sempre se conservasse inalterado e vivo na Igreja, os apóstolos deixaram como sucessores os bispos, a eles transmitindo o seu próprio encargo de Magistério. Com efeito, a pregação apostólica, que é expressa de modos especial nos livros inspirados, devia conservar-se por uma sucessão contínua até a consumação dos tempos. Essa transmissão viva, realizada no Espírito Santo, é chamada de Tradição enquanto distinta da Sagrada Escritura, embora intimamente ligada a ela. Através da Tradição, a Igreja, em sua doutrina, vida e culto, perpetua e transmite a todas as gerações tudo o que ela é, tudo o que ela crê. O ensinamento dos Santos Padres testemunha a presença vivificante dessa Tradição, cujas riquezas se transfundem na praxe e na vida de Igreja crente e orante. [...] Daí resulta que a Igreja, à qual estão confiadas a transmissão e a interpretação da Revelação, não deriva sua certeza a respeito de tudo o que foi revelado somente da Sagrada Escritura. Por isso, ambas devem ser aceitas e veneradas com igual sentimento de piedade e reverência” (CIC 77-78.82).
Juntamente com as Escrituras e a Tradição, o Magistério completa o tripé que fundamenta nossa fé católica, através da qual Deus se revela a nós. “O ofício de interpretar autenticamente a Palavra de Deus escrita ou transmitida foi confiado unicamente ao Magistério vivo da Igreja, cuja autoridade se exerce em nome de Jesus Cristo, isto é, aos bispos em comunhão com o sucessor de Pedro, o bispo de Roma. Tal Magistério não está acima da Palavra de Deus, mas a serviço dela, não ensinado senão o que foi transmitido, no sentido de que, por mandato divino, com a assistência do Espírito Santo, piamente ausculta aquela palavra, santamente a guarda e fielmente a expõe, e deste único depósito de fé tira o que nos propõe para ser crido como divinamente revelado. Os fiéis, lembrando-se das palavras de Cristo a seus apóstolos: ‘Quem vos ouve, a mim ouve’ (Lc 10, 16), recebem com docilidade os ensinamentos e as diretrizes que seus Pastores lhes dão sob diferentes formas” (CIC 86-87). Devemos, portanto, buscar tanto quanto incentivar nossos jovens a conhecer a Tradição e o Magistério da Igreja, através dos escritos dos Papas e dos Bispos. Cabe a nós sermos fiéis a eles, aos quais estamos confiados, como ovelhas a seus pastores.
Através da Palavra, da Tradição e do Magistério, podemos encontrar a Deus, conhecê-lo melhor e dizer como o apóstolo: “Sei em quem pus minha fé” (2Tm 1, 12).
O relacionamento com Deus nos impele a seguir seus mandamentos. “Aquele que afirma permanecer Nele, deve também viver como Ele viveu” (1Jo 2, 6). “O dom dos mandamentos é dom do próprio Deus e de sua santa vontade. Ao dar a conhecer as suas vontades, Deus se revela a seu povo” (CIC 2059). Nas palavras de Santo Irineu: “Assim, pelo Decálogo, Deus preparou o homem para se tornar seu amigo e ter um só coração para com o próximo... Da mesma maneira, as palavras do Decálogo continuam válidas entre nós cristãos. Longe de serem abolidas, elas foram levadas à plenitude do próprio significado e desenvolvimento pelo fato da vinda do Senhor na carne”. “Não julgueis que vim abolir a lei ou os profetas. Não vim para os abolir, mas sim para levá-los à perfeição” (Mt 5, 17). Essa plenificação dos mandamentos pela encarnação de Cristo está manifesta principalmente no Sermão da Montanha (cf. Mt 5-7). Nas bem-aventuranças, o Senhor manifesta Seu projeto de vida (cf Mt 5, 3-12). Além disso, quando perguntado sobre os maiores mandamentos, Jesus esclarece: “Amarás o Senhor teu Deus de todo o coração, de toda a tua alma e de todo o teu espírito. Este é o maior e o primeiro mandamento. E o segundo, semelhante a este é Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Nesses dois mandamentos se resumem toda a Lei e os Profetas” (Mt 22, 37-40). “Se me amais, guardareis os meus mandamentos” (Jo 14, 15).
Desta forma, percebemos que outra maneira de nos relacionarmos com Deus é através dos irmãos. “Ninguém jamais viu a Deus. Se nos amarmos mutuamente, Deus permanece em nós e o seu amor em nós é perfeito” (1Jo 4, 12).
Nunca nos esqueçamos de que todo o conhecimento de Deus é pura Graça. “Porque é gratuitamente que fostes salvos, mediante a fé. Isto não provém de vossos méritos, mas é puro dom de Deus” (Ef 2, 8). Assim, precisamos pedir sempre ao Doador de todas as Graças que nos mostre a Face do Senhor. Clamar em oração para conhecê-lo e ter um relacionamento equilibrado com Ele é o único meio de obter a graça da intimidade. Essa intimidade com o Senhor é fundamental para nossa caminhada espiritual.
Outro ponto importante que deve ser lembrado é que muitas vezes nos perdemos em nossos afazeres, no serviço dentro da Igreja, nos Grupos de Oração. Para muitos, a obra acaba tomando o lugar de Deus. É o início do ativismo, que é sempre estéril. Devemos tomar cuidado para não cair nessa tentação e para evitar se deixar enganar por esse ímpeto de serviço que afasta de Deus. Devemos sempre, em primeiro lugar, buscar a intimidade com o Senhor. Muitos precisam ouvir do Senhor o mesmo que uma das irmãs da aldeia de Betânia: “Marta, Marta, andas muito inquieta e te preocupas com muitas coisas; no entanto, uma só coisa é necessária; Maria escolheu a boa parte, que não lhe será tirada” (Lc 10, 41s). Isso não quer dizer que podemos apenas rezar. Quer dizer que devemos primeiro rezar. Estar aos pés do Senhor como a irmã de Marta o fez é a ‘boa parte’, a parte principal. É aos pés do Senhor que o discípulo é formado para a missão. Não podemos sair em missão sem antes ter ficado aos pés do Mestre. Se assim o fizermos, corremos o risco de ter uma missão estéril, tentando levar aos outros o que não recebemos. Primeiro, é preciso estar com o Senhor para depois sair em missão: “Depois subiu ao monte, e chamou os que Ele quis. Designou doze entre eles para ficar em sua companhia. Ele os enviaria a pregar com o poder de expulsar demônios” (Mc 3, 13).
Peçamos a nossa mãe, Maria Santíssima, Mãe de Deus, que viveu a intimidade de esposa do Espírito Santo guardando ‘tudo isso’ no coração, que nos ensine o caminho da intimidade com o Senhor através do Paráclito prometido, que nos ensina e recorda ‘todas as coisas’. Assim seja.
QUIROGA, Aldo Flores e FLORES, Fabiana Pace Albuquerque. Práticas de Vida e Relacionamento– Ministério Jovem RCCBrasil. Módulo Serviço – Apostila I. 2ª edição.
Siglas:
CIC – Catecismo da Igreja Católica
DV - Constituição Dogmática Dei Verbum

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Publicado no dia 19/10/2010 | 16:39:37 


Como se relacionar com Deus?

Como já foi lembrado nas formações anteriores, Deus está próximo de nós e, mais do que isso, está ansioso por participar da nossa vida. É importante destacar que o Senhor é Emmanuel, Deus conosco. Ele é quem sempre dá o primeiro passo em direção ao homem. No paraíso, após a desobediência de Adão, é Deus que lhe vem ao encontro em primeiro lugar e o chama: “Adão, onde estás?” (Gn 3, 9). É sempre o Senhor quem vai em busca do homem. Na encarnação do seu Filho, isso se torna mais manifesto: “Nisto consiste o amor: não em termos nós amado a Deus, mas em ter-nos Ele nos amado e enviado seu Filho único para expiar os nossos pecados” (1Jo 4, 10). Esse chamado de Deus em busca do homem - “’Onde estás?’ – palpita no interior de todos nós o desejo, a sede de Deus. O desejo de Deus está inscrito no coração do homem, e [...] Deus não cessa de atrair o homem para si, e somente em Deus o homem há de encontrar a verdade e a felicidade que não cessa de procurar” (CIC 27). E Santo Agostinho diz que o “nosso coração vive inquieto, enquanto não repousar em vós” (Confissões nº 01).
O relacionamento do homem com Deus começa com o início da própria existência. Como lembramos no Salmo 138, desde antes de nascer, Deus já olha por nós. O relacionamento se torna mais íntimo com o sacramento do batismo. É lá que a criança-criatura é acolhida na família de Deus e recebe a adoção, o caráter de filho de Deus. Isso se repete em todos os sacramentos da Igreja: na medida em que participamos deles, vivenciamos a pertença à Sua família. A vida da Igreja nos impulsiona ao relacionamento com Deus. Através dos sacramentos – principalmente da Eucaristia e da Penitência – o próprio Deus se revela ao crente. “É pelos sacramentos da Igreja que Cristo comunica aos membros do seu corpo o Seu Espírito Santo e Santificador” (CIC 739).
Nos sacramentos da Igreja, Deus se revela ao homem. “Os sacramentos da nova lei foram instituídos por Cristo e são sete, a saber: o Batismo, a Confirmação, a Eucaristia, a Penitência, a Unção dos Enfermos, a Ordem e o Matrimônio. Os sete sacramentos atingem todas as etapas e todos os momentos importantes da vida do cristão: dão à fé do cristão origem e crescimento, cura e missão” (CIC 1210). “O que a fé confessa, os sacramentos comunicam: pelos ‘sacramentos que os fizeram renascer’, os cristãos se tornaram ‘filhos de Deus’ (cf. Jo 1, 12; 1Jo 3, 1), ‘participantes da natureza divina’ (2Pd 1, 4)” (CIC 1692).
Relacionar-se com Deus não é muito diferente do relacionar-se com um amigo. Nessa situação, o diálogo é fundamental. É através dele que os amigos se conhecem e se dão a conhecer. É conversando que eles aprendem o que agrada a um e desagrada ao outro, o que é bom pra um e ruim para o outro. No relacionamento com Deus acontece o mesmo: o diálogo é a oração. É primordialmente através da oração que nos relacionamos com Deus: “Ainda que o homem esqueça seu Criador, ou se esconda longe de Sua Face, ainda que corra atrás dos seus ídolos ou acuse a divindade de tê-lo abandonado, o Deus vivo e verdadeiro chama incessantemente cada pessoa ao encontro misterioso da oração. Essa atitude de amor fiel vem sempre em primeiro lugar na oração; a atitude do homem é sempre resposta ao esse amor fiel. À medida que Deus se revela e revela o homem a si mesmo, a oração aparece como um recíproco apelo, um drama de Aliança” (CIC 2567).
Ainda em outro trecho, o Catecismo nos lembra a passagem que representa o encontro de todo o homem com o Filho de Deus: a samaritana no poço de Jacó (cf. Jo 4). “’Se conhecesses o dom de Deus!’ (Jo 4, 10). A maravilha da oração se revela justamente aí, à beira dos poços aonde vamos procurar nossa água; é aí que Cristo vem ao encontro de todo ser humano, é o primeiro a nos procurar e é Ele quem pede de beber. Jesus tem sede, seu pedido vem das profundezas do Deus que nos deseja. A oração, quer saibamos ou não, é o encontro entre a sede de Deus e a nossa. Deus tem sede de que nós tenhamos sede Dele” (CIC 2560).
Como na amizade, o diálogo tem de ser verdadeiro e, na oração, nossas palavras devem ser autênticas. Não podemos cultivar uma relação frutuosa com Deus apresentando-nos apenas com orações decoradas e escondendo o que realmente sentimos. Muitas pessoas não descobrem o valor de um relacionamento sincero com Deus porque não conseguem manifestar a Ele seus reais sentimentos. Vestem uma máscara diante Dele e, não importa o que estejam passando, repetem sempre as mesmas palavras de louvor e adoração. Se nosso espírito está abatido, é assim que devemos nos apresentar a Deus. Se estamos com raiva ou tristes, não podemos fingir que está tudo bem. É a Deus que devemos apresentar nossa raiva, nossa tristeza e todos os nossos sentimentos. A primeira coisa que devemos fazer para conquistar um relacionamento de intimidade com o Senhor é jogar fora as máscaras e apresentarmo-nos diante Dele exatamente como somos.
Existem diversos tipos de oração. Em cada um, nos apresentamos ao Senhor de uma maneira diferente e contemplamos sua Face de modo particular. Na oração de louvor, por exemplo, nos apresentamos admirados e agradecidos por suas obras. O louvor não existe apenas para as coisas boas da nossa vida. Se cremos que Deus é amor, compreendemos que até as coisas ruins que nos acontecem são permitidas por amor. Assim, louvamos também pelas coisas que não nos parecem boas. O louvor é a oração do reconhecimento de Deus, ou seja, com o louvor reconhecemos sua majestade, sua glória, seu poder. Da mesma forma, na adoração, na súplica, na ação de graças, no pedido de perdão e nos diversos tipos de diálogo com Deus, experimentamos sua Graça e sua misericordiosa presença. Vale lembrar as palavras de Santa Teresinha do Menino Jesus: “Para mim a oração é um impulso do coração, é um simples olhar lançado ao céu, um grito de reconhecimento e amor no meio da provação ou no meio da alegria”. Um ‘impulso do coração’ é algo espontâneo, que brota do mais íntimo do homem, que não pode ser contido por fórmulas pré-estabelecidas e padronizadas.
É importante destacar que essa oração espontânea é fundamental para construirmos um relacionamento íntimo com o Senhor, porém não substitui as orações ensinadas pela Igreja e que devem ser cultivadas com zelo por todo o cristão. Mesmo na prática de orações recitadas, é preciso que toda nossa alma acompanhe as palavras que recitamos: “Para que essa oração seja algo próprio de cada um dos que nela participam e se torne fonte de piedade e da multiforme graça divina e alimento da oração individual e da ação apostólica, é preciso que nela a mente concorde com a voz, celebrando-a com dignidade, atenção e devoção. Todos cooperem diligentemente com a graça divina, para não a receberem em vão. Buscando a Cristo e penetrando cada vez mais intimamente em seu mistério mediante a oração, louvem a Deus e façam súplicas com a mesma intenção com que o divino Redentor orava” (Instrução Geral sobre a Liturgia das Horas nº 19).
“De onde vem a oração humana? Qualquer que seja a linguagem da oração (gestos e palavras), é o homem todo que reza. Mas para designar o lugar onde brota a oração, as Escrituras falam às vezes da alma ou do espírito, geralmente do coração (mais de mil vezes). É o coração que reza. Se ele está longe de Deus, a expressão da oração é vã. [...] A oração cristã é uma relação de Aliança entre Deus e o homem em Cristo. É a ação de Deus e do homem; brota do espírito e de nós, dirigida ao Pai, em união com a vontade humana do Filho de Deus feito Homem” (CIC 2565-2563).
O Rosário, por exemplo, nos ensina a contemplar os mistérios da encarnação assim como Maria os contemplou. O Ofício das Horas nos leva a consagrar nossa jornada e elevar nossa mente e coração a Deus nos diferentes momentos do dia. As orações e novenas dos Santos, além de conquistar os frutos de sua intercessão pelo mistério da Comunhão dos Santos, desabrocham em nós o coração suplicante de filhos que clamam. Todas essas práticas devem ser incentivadas em nossos grupos, porém devemos sempre motivar nossos jovens a buscarem desenvolver também a oração espontânea.
É importante também que guardemos esta verdade: a oração é graça, é um dom de Deus para o homem que clama!
Um fato concreto que eleva o relacionamento do homem com Deus ao grau da intimidade é a graça vivenciada pela Igreja com maior intensidade nesses tempos: a efusão do Espírito Santo. O Batismo no Espírito derruba toda barreira no coração humano para o relacionamento com Deus. É claro que sempre devemos nos esforçar para fazer a nossa parte. A Efusão do Espírito Santo é, portanto, o desabrochar da ação da Graça que pode ter ficado sufocada desde o nosso batismo. O Magistério nos ensina sobre a ação do Espírito Santo na Igreja: “O Espírito prepara os homens, antecipa-se a eles pela sua graça, para atraí-los a Cristo. Manifesta-lhes o Senhor ressuscitado, lembra-lhes a sua palavra, abrindo-lhes o Espírito à compreensão da sua Morte e Ressurreição. Torna-lhes presente o mistério de Cristo, eminentemente na Eucaristia a fim de reconciliá-los, de colocá-los em comunhão com Deus, a fim de fazê-los produzir ‘muito fruto’ (cf. Jo 15, 5.8.16)” (CEC 737).
Os nossos Grupos de Oração são terreno fértil e privilegiado para o desabrochar de um relacionamento fecundo entre o homem e Deus. Mas não só  neles devemos buscar esse relacionamento. A oração pessoal é fundamental para crescermos em intimidade com o Senhor. “Quando orares, entra no teu quarto, fecha a porta e ora ao teu Pai em segredo; e teu Pai, que vê num lugar oculto, recompensar-te-á” (Mt 6, 6).
O relacionamento de Jesus com seus discípulos não se dava apenas durante suas aparições públicas, quando curava e pregava a Boa Nova. O momento privilegiado do Mestre com aqueles que chamou a segui-lo dava-se à noite, no monte ou na intimidade com os discípulos, sempre longe da multidão (cf. Mc 4, 10; Lc 9, 18; Lc 9, 28-36; Lc 18, 31; Mt 13, 36). É pela intensidade e pela grande quantidade desses momentos que Jesus, na sua despedida, pôde dizer: “Já não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor. Mas chamei-vos amigos, pois vos dei a conhecer tudo quanto ouvi de meu Pai” (Jo 15, 15). O relacionamento com Deus não pode ser apenas o relacionamento de um servo com o seu Senhor. Devemos querer mais, devemos buscar uma amizade profunda com o Senhor, através dos momentos de intimidade. Isso não virá apenas pelo nosso esforço, mas pela Graça. Assim, devemos colocar-nos à disposição do Senhor e fazer a nossa parte, pedindo a graça da intimidade com Deus ao Espírito Santo. Portanto, importa estar sempre aos pés do Senhor. Essa é a pedagogia do Mestre. Ele ensina na ‘escuridão’, falando ‘ao ouvido’: “O que eu vos digo na escuridão, dizei-o às claras. O que vós é dito ao ouvido, publicai-o de cima dos telhados” (Mt 10, 27).

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Quem é Deus?

“Deus é amor” (1Jo 4, 8)
Iniciar um relacionamento significa começar um processo de conhecimento do outro. Entre o homem e Deus isso também acontece. Relacionar-se com Ele significa buscar conhecê-lo cada vez mais. Nessa busca, muitos tentam definir a Deus. O Catecismo da Igreja Católica faz isso, logo no primeiro parágrafo: “Deus, infinitamente Perfeito, Bem-aventurado em sim mesmo, em um desígnio de pura bondade, criou livremente o homem para fazê-lo participar de sua vida bem-aventurada. Eis por que desde sempre e em todo o lugar, está perto do homem. Chama-o e ajuda-o a procurá-lo, a conhecê-lo e a amá-lo com todas suas forças”.
No parágrafo 36: “A Santa Igreja, nossa mãe, sustenta e ensina que Deus, princípio e o fim de todas as coisas, pode ser conhecido com certeza pela luz natural da razão humana a partir das coisas criadas. Sem esta capacidade, o homem não poderia acolher a revelação de Deus. O homem tem esta capacidade por ser criado à imagem de Deus”.
E ainda no parágrafo 27: “O desejo de Deus está inscrito no coração do homem, já que o homem é criado por Deus e para Deus; e Deus não cessa de atrair o homem para si, e somente em Deus o homem há de encontrar a verdade e a felicidade que não cessa de procurar”.
Na sequência deste texto, segue parte da Constituição Pastoral Gaudium et Spes (GS 19, 1): “O aspecto mais sublime da dignidade humana está nesta vocação do homem à comunhão com Deus. Este convite que Deus dirige ao homem, de dialogar com ele, começa com a existência humana. Pois se o homem existe, é porque Deus o criou por amor e, por amor, não cessa de dar-lhe o ser, e o homem só vive plenamente, segundo a verdade, se reconhecer livremente este amor e se entregar ao seu criador”.
Estes três parágrafos não são os únicos. Porém, mostram com clareza o que a Igreja Católica pensa e prega a respeito de Deus. Nestes textos encontra-se a imagem de Deus Criador, início de tudo, que por um infinito amor criou o homem. Além disso, pode-se perceber a presença de Deus na vida do homem e o desejo de que este homem, por sua livre iniciativa, procure Deus, e o ame com todas as suas forças. Sabendo que esta tarefa não é simples. Ele está sempre presente e disposto a ajudar.
A palavra “homem”, repetida inúmeras vezes nas passagens anteriores, pode tornar o texto impessoal e distante. Para tornar estes textos mais presentes na nossa vida, pode-se trocar a palavra “homem” pelo nosso próprio nome. Com isso, fica mais fácil perceber o chamado e o cuidado particular de Deus com cada um de nós.
Na Bíblia, podem ser encontradas mais características de Deus, como, por exemplo, na 1ª Carta de São João, onde ele revela que “Deus é amor”. Essa é a essência de Deus. O discípulo que ‘Jesus amava’ nos revela a mais profunda verdade sobre Deus: Ele é amor. Isso é determinante para conhecê-lo. Precisamos estar profundamente convencidos dessa essência, pois isso determina a maneira como nos relacionamos com Ele. Se Deus é amor, Ele ama. Não pode deixar de amar. E se não pode deixar de amar, tudo o que faz, o faz por amor. Todo medo de Deus sucumbe quando nos convencemos de que Deus é amor. Se Deus é amor, não há nele maldade, ressentimento, vingança ou autoritarismo. Todas essas características viciadas que muitas vezes trazemos inconscientemente de Deus caem por terra quando tomamos consciência de que Deus é amor. Se isso é verdade, ele não é indiferente à dor humana. Se Deus é amor, então ele não pode ser um Deus distante, ausente ou carrasco. Ele é Amor!
Porém, a definição mais pedagógica de Deus é apresentada pelo próprio Jesus, quando chama Deus de Pai (Mt 6, 5-13). Dentro da cultura judaica, Deus era visto de várias maneiras, mas nunca como um Pai. Quando Jesus o chama não apenas de Pai, mas de ‘Abba’ – Papai – ele revela a nós qual é o amor paternal que Deus tem para conosco e qual é o amor filial que devemos ter em relação a Deus. A partir dessa fala de Jesus, já não podemos mais conhecer um Deus a quem devemos apenas servir e adorar. Um Deus que está distante em seu trono aguardando nosso sacrifício. Não! Após a fala de Jesus chamando Deus de Papai, entendemos que somos seus filhinhos queridos e devemos nos relacionar com Ele assim, de maneira íntima, como dependentes, como criancinhas que precisam de seu colo, de sua companhia, de sua Graça.
No conceito de ‘pai’ estão embutidas as ideias de: origem, autoridade, verdade, sabedoria, providência, fidelidade, misericórdia, amor. Muitas vezes, por experiências ruins em relação a nossos pais naturais, temos dificuldades em aceitar a figura paterna de Deus. É preciso orar pedindo a cura disso. Orar para aceitar a Deus como Pai e para perdoar nossos pais. Eles ao limitados como nós. Provavelmente também não receberam o amor paterno equilibrado quando pequenos e por isso não souberam manifestar esse amor a nós. Como diz o cantor católico Martin Valverde: “Deus não é um pai, Ele é O Pai!”. Todas as falhas e limitações de nossos pais que possam ter nos machucado não estão presentes em Deus. O Senhor detém a plenitude da paternidade. Ele é o Pai Perfeito.
Esse amor de Pai zeloso é manifestado em nossas vidas a todo o momento. Mesmo que não o percebamos, cegos pelas dores ou pela incredulidade, esse amor nos envolve carinhosamente. Se há uma coisa que o Pai não pode fazer é deixar de nos amar. “Com efeito, de tal modo Deus amou o mundo, que lhe deu seu Filho único, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3, 16).
Esse amor se manifesta antes mesmo do nosso nascimento. O salmista celebra as maravilhas de Deus: “Fostes vós que plasmastes as entranhas de meu corpo, vós me tecestes no seio da minha mãe. Sede bendito por me haveres feito de modo tão maravilhoso” (Sl 138). Nossa natureza, nossas características (todas e cada uma delas) são sinais do amor de Deus por nós.
Reconhecemos este Deus Pai e Criador sempre que rezamos o Pai Nosso, o Creio, ou mesmo no simples “em nome do Pai, do filho e do Espírito Santo”. Ao longo da nossa vida nos habituamos a estas orações e, às vezes, nem nos damos conta do que estamos rezando. Além de reconhecê-lo efetivamente como Pai, é fundamental que cada um se aproxime de deus e queira ardentemente estar junto dele em todos os momentos.
QUIROGA, Aldo Flores e FLORES, Fabiana Pace Albuquerque. Práticas de Vida e Relacionamento– Ministério Jovem RCCBrasil. Módulo Serviço – Apostila I. 2ª edição.
Siglas:
CIC – Catecismo da Igreja Católica
GS - Constituição Pastoral Gaudium et Spes
Conheça o Módulo de Formação Humana da Editora RCCBRASIL (Encontro com DeusEncontro com os outros e Encontro comigo mesmo). Clique nesses links, acesse a RCCSHOP e confira esta obra, que colabora no nosso crescimento espiritual.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

O sonho de Deus

“Então Deus disse: ‘Façamos o homem à nossa imagem e semelhança. Que ele reine sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu, sobre os animais domésticos e sobre toda a terra, e sobre todos os répteis que se arrastam sobre a terra.’ Deus criou o homem à sua imagem; criou-o à imagem de Deus, criou o homem e a mulher. (...) Deus contemplou toda a sua obra e viu que tudo era muito bom. Sobreveio a tarde e depois a manhã: foi o sexto dia.” (Gn 1, 26-27.31)
O primeiro homem não só foi criado bom, mas também foi constituído em uma amizade com o seu Criador e em uma tal harmonia consigo mesmo e com toda a criação que o rodeava, que só serão superadas pela glória da nova criação em Cristo.
Interpretando de maneira autêntica o simbolismo da linguagem bíblica à luz do Novo Testamento e da Tradição, a Igreja ensina que os nossos primeiros pais Adão e Eva foram constituídos em um estado de “santidade e de justiça original”. Esta graça diante da santidade original era uma “participação da vida divina”.
Pela irradiação desta graça, todas as dimensões da vida do homem eram fortalecidas, o homem não deveria nem morrer, nem sofrer. A harmonia interior da pessoa humana, a harmonia entre o homem e a mulher e, finalmente, a harmonia entre o primeiro casal e toda a criação constituíam o estado denominado “justiça original”.
O “domínio” do mundo que Deus havia outorgado ao homem desde o início realizava-se antes de tudo no próprio homem como domínio de si mesmo. O homem estava intacto e ordenado em todo o seu ser, porque livre da tríplice concupiscência (cf. 1Jo 2, 16) que o submete aos prazeres dos sentidos, à cobiça dos bens terrestres e à autoafirmação contra os imperativos da razão.
O sinal da familiaridade com Deus é o fato de Deus o colocar no jardim. Lá vive “para o cultivar e o guardar” (Gn 2, 15): o trabalho não é uma penalidade, mas sim a colaboração do homem e da mulher com Deus no aperfeiçoamento da criação visível.
É toda esta harmonia da justiça original, prevista para o homem pelo desígnio de Deus, que será perdida pelo pecado dos nossos primeiros pais. (CIC 374-379)
Em nossa experiência cristã, muitas vezes ouvimos falar sobre o pecado original. Aprendemos que Adão foi o responsável pela perda da intimidade de todo o gênero humano com Deus. Vemos a nossos primeiros pais apenas como os culpados pela desobediência. Esta visão limitada influencia a maneira como vemos a natureza do próprio Homem. Muitas pessoas que vivem a realidade do Espírito passam a ver sua humanidade como um peso, um fardo a carregar durante a ‘travessia terrestre’. Para compreender o papel e principalmente o valor cristão de nossa humanidade, é preciso resgatar o plano de Deus para esse Homem, antes da queda.
A Palavra nos conta que Deus desejou, planejou e criou o Homem. E o fez conforme Sua vontade. Nada Lhe escapou. A bondade e o Amor do Pai pelo Homem o fizeram desta forma.
O Catecismo ainda nos ensina: “De todas as criaturas visíveis, só o homem é capaz de conhecer o seu Criador; ele é a única criatura na terra que Deus quis em si mesma; só ele é chamado a compartilhar, pelo conhecimento e o amor, a vida de Deus. Foi para este fim que o homem foi criado, e aí reside a razão fundamental da sua dignidade” (CIC 356). Podemos dizer que o maior presente de Deus ao homem é a sua própria humanidade. Todos os outros valores dados ao homem pelo seu Criador, como a vida, a liberdade, o amor, giram em torno da sua humanidade. Apenas ao gênero humano foi dada tal dignidade. Como exemplo, citamos: uma árvore tem vida, mas, dependendo da situação, pode ser cortada; um animal tem vida, mas em alguns casos, precisa ser sacrificado. Só a vida humana não pode ser ameaçada em nenhuma circunstância. Toda a vida é valiosa, mas a do ser humano é mais ainda. “O homem na verdade não se engana quando se reconhece superior aos elementos materiais, e não se considera somente uma partícula da natureza ou um elemento anônimo da cidade humana. Com efeito, por sua vida interior, o homem excede a universalidade das coisas. Ele penetra nessa intimidade profunda quando se volta ao seu coração, onde o espera Deus, que perscruta os corações, e onde ele pessoalmente sob os olhares de Deus decide a sua própria sorte.” (GS 14, 2)
Desta forma é preciso entender que o Amor paternal de Deus está sobre o gênero humano desde a criação e nunca se afastou dele. E este Amor se derrama justamente dessa forma porque somos ‘gente’, por que somos seres humanos. Diz o Eclesiástico: “Que raça é digna de honra? A raça dos homens” (Eclo 10, 19).
Santa Catarina de Siena orava: “Que motivo vos fez construir o homem em dignidade tão grande? O amor inestimável pelo qual enxergastes em vós mesmo a vossa criatura e vos apaixonastes por ela; pois foi por amor que a criastes, foi por amor que lhe destes um ser capaz de degustar o vosso Bem eterno” (Dial. 4, 12). E São João Crisóstomo: “Quem é, pois, o ser que vai vir à existência cercado de tal consideração? É um homem, grande e admirável figura viva, mais precioso aos olhos de Deus do que a criação inteira: é o homem, é para ele que existem o céu e a terra e o mar e a totalidade da criação, e é à salvação dele que Deus atribuiu tanta importância, que nem sequer poupou seu Filho único em  seu favor. Pois Deus não se cansou de tudo empreender para fazer o homem subir até ele e fazê-lo sentar à sua direita.” (Serm. In Gen. 2, 1).
Quando o Senhor criou a humanidade, tinha um projeto, um sonho. É disso que nos fala o Novo Catecismo: “(...) Adão e Eva foram constituídos em um estado de ‘santidade e justiça original’”. A santidade é a participação da vida divina. A justiça é a harmonia do Homem com Deus, com a Mulher, com toda a criação e consigo mesmo. A harmonia consigo mesmo é o autodomínio. Esse é o projeto de Deus para o Homem. Quando vem a queda, Deus não desiste de seu projeto. Com a saída de Adão e Eva do Paraíso, tem início o esforço do Pai para recuperar seus filhos (cf. Gn 3, 15).
A queda de Adão e Eva não é uma consequência de sua humanidade, antes o é do mau uso da liberdade, do livre arbítrio concedido por Deus. A queda não acontece porque Adão é um ser humano, mas porque não soube obedecer a Deus e deixou-se levar pelas seduções do Mal. Desde então pesa sobre o gênero humano o pecado original. Mas “onde abundou o pecado, superabundou a Graça” (Rm 5, 20). Glória a Deus pela sua misericórdia! O que é preciso entender é que o Senhor não criou o Homem com tendência ao pecado, porém esta tendência ocorre pela marca do pecado original. Mas o Senhor não permitiria que sua criatura mais querida permanecesse exilada do Paraíso eternamente. “O que era impossível à Lei, visto que a carne a tornava impotente, Deus o fez. Enviando, por causa do pecado, o seu próprio Filho numa carne semelhante à do pecado, condenou o pecado na carne, a fim de que a justiça, prescrita pela Lei, fosse realizada em nós que vivemos não segundo a carne, mas segundo o espírito (Rm 8, 3-4).
Na cruz de Cristo, o Pai resgata para nós o que Adão perdera. O Senhor nos devolve o ingresso à intimidade de Deus. E isso vale também para o nosso corpo, para nossa humanidade inteira, porque, na pessoa de Jesus Cristo, o gênero humano é devolvido à sua plenitude. A pessoa de Cristo eleva a pessoa humana às origens, antes da queda. Glória ao Senhor por isso! “Convém que façamos festa porque este meu filho estava morto e reviveu, estava perdido e foi achado!” (Lc 15, 23-24). O Pai conquistou para nós, através de Seu Filho, a possibilidade de vivermos novamente para o Seu sonho para a humanidade. O Novo Adão nos eleva ao que verdadeiramente somos: imagem e semelhança de Deus.
Com tudo isso, entendemos o valor que o Pai dá à nossa humanidade. Não é à toa que, na Constituição Pastoral Gaudium et Spes, o Magistério nos ensina: “Corpo e alma, mas realmente uno, o homem, por sua própria condição corporal, sintetiza em si os elementos do mundo material, que nele assim atinge sua plenitude e apresenta livremente ao Criador uma voz de louvor. Não é, portanto, lícito ao homem desprezar a vida corporal, mas, ao contrário, deve estimar e honrar o seu corpo, porque criado por Deus e destinado à ressurreição no último dia. Mas, vulnerado pelo pecado, o homem sente as revoltas no corpo. Portanto, a própria dignidade do homem pede que ele glorifique a Deus, em seu coração, não lhe permitindo servir às más inclinações do coração” (GS 14, 1).
O pecado não é consequência de nossa humanidade, mas da concupiscência que habita em nós. Nossa humanidade é muito mais do que nosso pecado. Vencida a concupiscência, temos o Homem Pleno, cheio do Espírito Santo, conformado a Cristo, com quem crucificamos a carne para viver no Espírito. “Ora, se Cristo está em vós, o corpo em verdade está morto pelo pecado, mas o Espírito vive pela justificação. Se o Espírito Daquele que ressuscitou Jesus dos mortos habita em vós, também dará a vida aos vossos corpos mortais, pelo seu Espírito que habita em vós” (Rm 8, 10-11). Alegre-se, pois, irmão, porque não fomos abandonados aos caprichos das nossas paixões. Antes fomos investidos da força do alto para elevar essa humanidade à “estatura de Cristo”.
Portanto, irmãos, nossa humanidade deve ser cultivada e não negada. Nossa ascese, nossa vida de oração, não pode ter por objetivo negar o que somos, o modo como fomos feitos pelo Criador. Antes, nossa caminhada deve buscar elevar essa humanidade ainda mais, assemelhando-a cada dia mais ao Cristo Senhor nosso. Ele veio “para que as ovelhas tenham vida, e vida em abundância” (Jo 10, 10). Isso significa viver em plenitude todas as vocações, chamados e aptidões. “Onde Deus te semeou é preciso florescer”, era o canto de Santa Teresinha. Dentro de cada homem há a semente do Reino, os talentos para construí-lo. Esses talentos se traduzem primeiramente nos nossos dons infusos, aqueles naturais: o gosto pelo esporte, pela leitura, pela natureza, por matemática ou por ciências, a facilidade para memorizar coisas, para cantar, o desejo de estudar, a carreira escolhida etc. Depois vêm os carismas e dons de serviço à Igreja. É preciso multiplicar todos esses dons, cultivá-los. Jamais enterrá-los (cf. Mt 25, 14-30).
Muitas vezes vemos irmãos de caminhada, abrasados pelo calor do Senhor, que, talvez por causa de direcionamentos equivocados, decidem negar tudo o que são, identificando nisso a conversão ‘radical’. Com o tempo, esse comportamento, não raro, desabrocha em frutos de amargura, frustração e rancor contra o próprio Senhor. A árvore se conhece pelos frutos, diz a Palavra. A verdadeira conversão liberta, não castra.  Muitos chegam até a abdicar dos seus próprios sonhos, dos desejos mais íntimos em relação ao futuro. Não percebem que eles foram plantados pelo próprio Deus Sonhador em seus corações. Cada sonho do Homem é um pequeno pedaço do Sonho do Pai. Jesus não veio para condenar, mas para salvar; não veio para negar, mas para transformar. Converter-se implica em abandonar o pecado e não a natureza humana criada por Deus.
É vital, para o Reino e para o indivíduo, que a humanidade de cada um seja resgatada. O Senhor não nos chamou do pó para sermos anjos. Chamou-nos a sermos Humanos! Fazendo isso, estaremos aproximando-nos mais e mais do Sonho de Deus. E é assim que Deus nos ama: com o Amor de Pai, que conhece profundamente o filho, a quem gerou no mais íntimo do seu Ser e a quem conhece antes mesmo do nascimento. O Pai te conhece, sabe dos teus anseios e de tuas necessidades. Que nossa alma não se atemorize diante de nossa humanidade, antes saiba ser esse o lugar privilegiado da manifestação do Amor do Pai.
QUIROGA, Aldo Flores e FLORES, Fabiana Pace Albuquerque. Práticas de Vida e Relacionamento– Ministério Jovem RCCBrasil. Módulo Serviço – Apostila I. 2ª edição.
Siglas:
CIC – Catecismo da Igreja Católica
GS - Constituição Pastoral Gaudium et Spes

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Amigos de Deus!

Oração e Rosário: fundamentos para uma muralha mais forte

A oração acompanhou Jesus em toda a sua vida, como forma de estar sempre em comunhão com seu Pai. O Rosário é uma das mais antigas e populares devoções da fé católica. Duas práticas que nos levam a ser cada vez mais próximos, amigos de Deus.
Na última sexta-feira (1º), as duas ações ganharam o destaque do projeto Amigos de Deus. Durante os meses de outubro, novembro e dezembro, somos convidados a incluí-las em nossas rotinas, assim como já fizemos com o jejum e a Lectio Divina. Mas não vamos esquecer, rápido assim, as “tarefas” anteriores.
A reconstrução das muralhas do nosso Movimento passa pela fidelidade de cada um nas práticas espirituais. E elas ficarão mais consistentes se as fizermos bem feitas. Para isso, baixe aqui os subsídios para a segunda campanhaVeja também o projeto em sua totalidade. Compartilhe com seus familiares, amigos, irmãos do Grupo de Oração. Vamos ficar cada vez mais Amigos de Deus!

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Projeto Amigos de Deus

Amigos de Deus: um projeto para o nosso dia-a-dia


O objetivo do projeto Amigos de Deus é promover uma grande mobilização espiritual dentro da RCC e unir os carismáticos em torno das práticas espirituais. Para tanto, a cada três meses, duas práticas são colocadas em evidência. Do período de julho a setembro vivenciamos o jejum e a lectio divina – leitura orante da Palavra. E de outubro a dezembro acontece a segunda campanha, que destaca as práticas da oração e do rosário.
Esses mutirões de oração podem ser também campanhas de intercessão. Assim como estamos nos propondo agora, e que toda a RCC está sendo convocada a jejuar e orar na intenção das eleições, na sua diocese e no seu Grupo de Oração as campanhas do projeto Amigos de Deus também podem ser usadas como forma de intercessão e preparação em prol das atividades da diocese como encontros e reuniões.

Saiba mais:

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Formação!!!

Por um Movimento profético e militante

 A seção de Formação do portal RCCBRASIL traz, nesta e nas próximas semanas, pregações e homilias ocorridas durante o XXIX Congresso Nacional da Renovação Carismática Católica. São momentos de grande unção e de conteúdos interessantes para nosso crescimento espiritual.
A militância apostólica e a combatividade profética foram abordadas pelo presidente do Conselho Nacional da RCCBRASIL. Veja a transcrição dos principais momentos da palestra e veja como os membros do nosso Movimento podem ser os protagonistas da implantação da Cultura de Pentecostes na nossa realidade.

Hoje, queremos partilhar um pouco mais sobre a vida do Movimento. A Renovação Carismática Católica que prega a Palavra, que esse ano se dedica mais a viver a Palavra. Me empolga muito na RCC, esse Movimento que eu conheço desde a minha infância, que nós temos um amor especial pela Palavra, nós vemos muito isso nos nossos Grupos de Oração. Por isso escolhemos neste ano, um ano que precede muitos anos do nosso 50 anos da Renovação Carismática, para dedicar inteiro para a Palavra de Deus.  Isto está em sintonia com a Igreja do Brasil e do mundo todo, a Igreja tem se preparado para viver a Palavra de Deus.
Irmãos, eu quero partilhar com vocês nesse momento a vida do Movimento de forma mais pedagógica, poder falar sobre o que estamos fazendo. Nós temos começado o dia assim, com a pregação com a Palavra. E precisamos da Palavra para nos motivar. Mas aqui estamos entre protagonistas da Renovação Carismática, coordenadores, dioceses, o Conselho Nacional, Grupos de Oração, lideranças reunidas aqui em Belo Horizonte. E nós queremos todos os dias falar sobre a vida do movimento. Estamos chamando esse momento de “Renovação em missão”. E hoje nós temos um subtítulo: Eu amo a RCC!
Isto é um projeto amplo, não vou falar dele pra vocês. Eu tenho a missão de trazer para vocês o nosso Planejamento Estratégico para os próximos anos. Eu não falarei dele para vocês em termos técnicos, mas apresentarei os resultados. E eu digo que é importante que nós que estejamos protagonizando, que estejamos a frente, mas temos que conhecer o movimento. Porque você não ama aquilo que não conhece. E se não se ama, não se envolve, não consegue trabalhar.
Nós temos cada vez mais um povo muito comprometido com a RCC. O compromisso não se mede por números, por quantidade, mas, como dizia lá em Macabeus, é pela força do Espírito Santo que este pequeno grupo tem capacidade impulsionar a vida de um grande Movimento. Porque se deixa envolver pelo mover do Espírito nesses tempos. E nós cremos que o Ele se move na Igreja. O Rogério [Soares, coordenador do grupo de reflexão teológica da RCCBRASIL] nos presenteou com uma pregação sobre a cultura de Pentecostes. E cultura é onde o homem pensa, age, se move. Mas na verdade, o que está à frente de tudo isso a impulsionar é o Espírito Santo. E nos cremos que Ele se move na história dos homens. E não fica de fora só a observar, mas entra na nossa história perpetua a sua ação nosso meio.
Irmãos, Deus não nos deixa órfãos nesse tempo. É o Espírito Santo que age nas historia dos homens. Há momentos em que a história humana fica confusa. Há momentos de crises e de grandes dificuldades. Nós percebemos que nesses momentos nós temos algo a dizer e a fazer. Somos um Movimento que tem uma responsabilidade muito grande. Nós temos essa obrigação, porque as pessoas têm esse direito: seja de forma oportuna ou inoportuna. As pessoas têm o direito de ouvir o Evangelho. Não sei como esse Evangelho te alcançou. De repente foi de uma forma inoportuna. Mas nós podemos testemunhar que um dia fomos transformados pelo poder de Deus, pelo poder desse Espírito Santo que se move na história e continua a testemunhar através de homens e de mulheres que Jesus Cristo está vivo e é o Senhor da história. Eu e você acreditamos nisso e por isso nós queremos nos desgastar, gastar os últimos anos de nossas vidas.
E a RCC é um movimento organizando, tem uma estrutura que nos ajuda e deve colaborar para isso. Por isso nós pensamos: vamos planejar de forma mais elaborada a vida da RCC para os próximos anos. Mas isso não pode ficar na cabeça e no coração de algumas pessoas que dirigem o Movimento. Isto tem que estar aberto. Todos nós que somos e amamos a RCC temos que conhecer. Hoje está mais corrente em nosso meio e mais fácil dizer assim: eu amo a RCC. E não é porque amamos menos outras coisas. Ou porque esquecemos que antes de sermos RCC, somos católicos. Mas é porque foi a Igreja que nos deu a Renovação. E se nós conhecemos bem a historia da RCC, sabemos que ela sempre esteve muito presente dentro dos contextos em que ia se dando a história da Igreja. Se nós formos contar aqui essa história temos que voltar mais de um século. Mas se quisermos contar a história completa, temos que voltar para Pentecostes. Quarenta e três anos de história eclesial. Ela nos é dada pela própria Igreja.
E nós amamos muito principalmente porque, na história de muitos de nós católicos, aqui redescobrimos a nossa fé, redescobrimos Jesus, redescobrimos a ação do Espírito Santo nestes tempos e nos sentimos a vontade de vivermos isso de forma espontânea, de forma que o nosso testemunho se faça obrigatório nestes tempos em que o Evangelho tem encontrado muitas portas que querem se fechar. Por isso a RCC é e deve ser, ao longo dos próximos anos, um movimento profético. E um movimento profético é aquele que escuta a Deus, que fala e vive o que Ele diz. É um movimento que escuta a Deus e o obedece. Se nós escutamos a Deus e paramos por aqui, nada acontece. Mas se nós o obedecemos, nós vamos começar a trabalhar com um novo ânimo. Quem escuta a Deus trabalha com um animo revigorado.
E eu quero pegar a Palavra de Deus, que nos ajuda nisso: “Que os homens nos considerem, pois, como simples operários de Cristo e administradores dos mistérios de Deus” (1Cor 4, 1). A nota de rodapé fala dos mistérios de Deus, os segredos de Deus revelados aos homens. E nós conhecemos isso dentro da RCC. Eu, por exemplo, conheci muito pequeno. E quando a gente vive isso dentro de uma caminhada que dura décadas, parece que tudo aconteceu ontem, vivemos hoje com o mesmo gosto. Descobrir e viver os mistérios que Deus tem para aqueles que Ele quer revelar. Há um desejo em Deus e um gosto de revelar as coisas que estão em Seus conselhos secretos. E quando Deus faz isso com um homem e uma mulher, nós temos nossas vidas transformadas, modificadas. Nós queremos entregar o resto de nosso tempo e de nossa história para Ele. Foi isso que aconteceu quando fomos batizados no Espírito Santo. E muda a história da vida de uma pessoa, dá novo sentido para a vida: conhecer o coração de Deus. É por isso que nós amamos esse movimento. Descobrimos que é possível conversar e entrar nos mistério divinos, que existe algo que Deus quer contar para nós.
Nós cremos nas promessas de Deus. O Congresso é um momento de graça porque nele se renovam as promessas em nossas vidas. Muitos de nós chegamos a esse momento de caminhada do ano já desgastados porque trabalhamos bastante em nossas vidas particulares, no nosso trabalho secular e eclesial. Às vezes ao longo de alguns anos, Deus tem falado com você e comigo ou na vida do nosso Movimento e nós às vezes esquecemos. Ou porque Deus tarda um pouco a realizar, nós ficamos pensando que Ele não vai cumprir as promessas. Mas Ele cumpre o que diz. Deus já falou no seu coração? Deus já falou na vida de RCC muitas vezes. Ele cumpre ao longo de nossa historia, nossa vida.  Ainda que Ele tarde. Nós cremos que Ele faz o que diz: Ele é fiel. Os mistérios de Deus são acessíveis aos homens neste tempo. E Ele nos pede para que sejamos operários que administram os mistérios de Deus.
Cada um que está aqui é operário, alguém que está a serviço.  Esse Conselho Nacional está aqui porque vocês assim o elegeram em seus estados e dioceses. A RCC é, portanto, um movimento que tem essa representatividade. A presidência é escolhida e se renova periodicamente. Então a vida do Movimento também se renova nas suas estruturas. E nesse tempo que nós estamos a frente, Deus fala a diferentes grupos de pessoas e nós temos que executar aquilo que ele fala.
O tempo é oportuno, temos que nos desgastar bastante. E quando nós convocamos um congresso como este, nós queremos partilhar e dizer assim: a RCC está em movimento a partir do Espírito Santo e tem ações a concretizar. E nós não podemos fazer isso sem que todos vocês conheçam e abracem. Nós não podemos delegar isso só a um grupo de pessoas que fazem o discernimento, mas isso tem que chegar às realidades mais distantes que são os Grupos de Oração, onde acontece por excelência a vida do Movimento.
Existe aqui um conteúdo que vale a pena você escutar, ler, ver e gravar. Eu espero até que parte desse conteúdo se torne canção, como tantas coisas têm se tornado canção na RCC.
Uma missão nasce de uma visão. E o bonito é que o Espírito Santo que é derramado em Pentecostes enche o coração daqueles homens e mulheres que lá estavam com sonhos e visões. Você tem sonhos e visões no seu coração? É fruto de Pentecostes. Isso me lembra um pouco o Documento de Aparecida.  Nele, temos assim um chamado a construir, na Igreja como um todo, espaços de oração calorosos, ardorosos, que rompam com o comodismo e cansaço. Então nós queremos a RCC na condição de um movimento ardoroso, organizado, unido e missionário.
Um profeta tem nos ajudado muito nesse ano da Bíblia, de planejamento: Neemias.  Neemias tinha uma situação difícil, desafiadora, impossível de ser realizada. Então, se coloca diante de Deus e começa a orar e jejuar, a chorar diante de Deus para realizar o desafio muito grande que muitos já tinham tentado e não tinham conseguido. O que acho bonito aqui, profundo, é que Neemias conhece a Deus, vai agora mergulhar nos mistérios de Deus, vai falar que ele entende que o seu povo está vivendo na miséria como conseqüência do pecado de seus pais e deles. Que Deus é fiel, mas que Deus não pode cumprir a sua promessa neste momento na vida do povo porque eles se encontra desobediente e infiel. Vocês vão ver que Neemias também lembra a Deus que há uma promessa, uma aliança, que Ele faz com Moisés. Então Neemias ora, jejua se humilha e lembra a Deus que a promessa é para o povo escolhido.
Nós estamos aqui como um povo reunido, com uma visão de Deus no coração, que deseja transformar uma nação e fazê-la cada vez mais batizada no ES. Temos que renovar, mas como? Organizar o Movimento. Escutar Deus e fazer a sua vontade. Como? Através da disciplina espiritual. Temos que ter os muros sem brechas. Neemias foi ousado. Ele recorreu à Palavra de Deus. Foi buscar na história antiga. Eu sou teu profeta nesse tempo, diz Neemias. Deus tem promessas para nós. É tempo de retomada das promessas para o Movimento.
O que vamos fazer com as promessas? Acomodarmos? Não! Temos que nos tormar mais amigos de Deus, retomar as praticas espirituais. É um chamado a todos que estão aqui. Você é chamado a viver uma vida nova. Você que diz que ama a RCC, com um novo compromisso com o Movimento. Que deseja transformar uma nação e fazê–la cada vez mais batizada no Espírito Santo. Todos desafios grandes! O nosso Movimento tem o desafio de se renovar a cada tempo, a cada período. Eu e você temos que nos renovar a cada período e coordenação. E a gente faz isso bem. Quem está a frente deve prezar em organizar o movimento.
Mas só isso não é suficiente, esse Movimento deve ser profético. Um movimento que escuta a Deus e faz a sua vontade. Mas como se escuta a Deus e faz a sua vontade? Certamente temos aqui segredos, precisaremos de uma disciplina espiritual. Neemias tinha que reconstruir as muralhas, isso traz para nós uma força simbólica muito grande. Às vezes alguns podem nos perguntar: mas reconstruir as muralhas não vai ser uma forma de fechamento em si mesmo? É óbvio que não queremos isso. Quando usamos aqui Neemias como um profeta para nos inspirar, o significado dos muros que estão destruídos e precisam ser reconstruídos tem aqui um significado mais profundo. Há toda uma dimensão espiritual e profunda. Nós não podemos deixar brechas, porque, senão, os inimigos invadem. Um movimento que escuta a Deus e quer se colocar em missão precisa estar bem organizado e espiritualmente bem. Ele tem que ter seus muros sem brechas. Neemias é um profeta que é amigo de Deus. Porque aos amigos, Deus dá essa prerrogativa de poder ousar diante Dele.
É bonito porque nós focamos na Palavra de Deus esse ano e Neemias recorreu a Palavra de Deus, lembrou a Deus da promessa feita a Moises, foi buscar na história antiga: “Senhor, lembra a professa que Tu fizeste para o teu amado amigo Moisés? Ele não está mais no meio de nós. Mas hoje eu quero reivindicar a promessa de que, se o Teu povo novamente se unir e reconhecer as suas faltas, Tu podes resgatar o Teu povo. E reuni-lo dos lugares dispersos e colocar de novo em Jerusalém”.
Deus tem promessas e quantas vezes Ele já fez promessas para mim e para você. É tempo de retomar as promessas de Deus na sua vida. É tempo de retomada das grandes promessas de Deus para o Movimento. Você já esteve em grandes congressos, você já viu quantas promessas Deus deu para nós e quantas Ele tem cumprido. Por isso, esse Congresso tem esse tema: “Proclama a Palavra, anuncia a Boa Notícia”, porque nós teremos muitas boas notícias para dar para vocês. De promessas que estão se cumprindo. O que vamos fazer nós agora? Vamos ficar acomodados? Não! Mais um motivo para nos apoiarmos na palavra de Neemias e não deixarmos brechas nos muros e sermos mais amigos de Deus. Eu tenho saudade de coisas que aconteceram na minha vida da RCC. Você não tem saudade de coisas bonitas, fortes, sofridas, mas que te edificaram? Eu tenho lembranças muito boas e que até hoje fazem parte da minha vida. E uma das coisas que eu aprendi com esse Movimento, e que eu e você temos que reaprender, são as práticas espirituais daqueles que se tornam amigos de Deus. Que nos ajudam e nos fortalecem nesses tempos que exigem de nós o que está escrito aqui.
O Rogério falou para nós com uma visão antropológica sobre o que é cultura. Nós não precisamos dominar essas coisas, porque tem gente que fará isso com mais precisão. Mas vejo que a RCC quer trabalhar para a implantação de uma nova cultura. Os valores que nós herdamos nos nossos pais da fé têm sido perdidos e dilapidados, como diz o Documento de Aparecida, o que gera uma cultura de morte que precisamos enfrentar. E isso gera em nós essas palavras que colocamos com tanta precisão aqui: militância apostólica. Militância que alguns não gostam de utilizar porque acham que pode ter um cunho ideológico. Mas não tem, aqui está com sentido teológico inclusive.
 Nós somos essa Igreja que está aqui no dia-a-dia, no mundo. Nós somos a igreja militante. Que quer agir com um tipo de profecia que envolve um combate, uma luta. Por isso sim, combatividade profética. Os profetas não são muito bem vistos no seu tempo. Muitos são calados, sofrem perseguições porque o profeta precisa falar aquilo que Deus manda falar e às vezes isso não agrada. Principalmente no mundo de hoje, que não aceita os valores que recebemos e que tenta colocar valores com os quais não concordamos.
É um chamado a todos os que estão aqui e eu preciso dizer isso para vocês: nós poderíamos fazer um encontro onde se emenda uma pregação atrás da outra. Esse momento é de chamar a responsabilidade daqueles que amam a RCC. Você está sendo chamado a uma vida nova, de profeta e está sendo chamado a combater, a lutar, a militar nesse mundo. O tempo de comodismo já passou. E eu espero que esse Congresso possa marcar sua vida a um tempo de um chamado a um novo compromisso com a RCC. Se nós que somos membros efetivos do movimento não cuidarmos dele, quem cuidará?
Eu quero chamar a todos que estão aqui a um novo patamar de comprometimento com a RCC. Você está sendo chamado pelo próprio Deus e com todo o Conselho Nacional, que tem vivido isso, que tem orado por isso e que percebe que há todo um mover novo do Espírito Santo no nosso meio para um grande despertar espiritual. De pessoas que estão comprometidos com a sua Igreja e com esse Movimento, com o qual nasceram de novo pelo poder do Espírito. Eu espero que vocês estejam prontos a dar uma resposta efetiva a esse chamado que estão recebendo.
Sei que muitos chegaram aqui cheios de problemas. Mas quem não os tem? Segunda-feira, voltaremos para casa e os problemas continuarão. Nós não estamos prometendo uma etapa mais fácil na sua vida. Mas nós estamos convocando o povo da RCC para um novo nível de comprometimento porque queremos preparar a RCC para que, em 2017, quando ela completar 50 anos, seja um movimento mais vigoroso, com mais Grupos de Oração, com mais vida e cheio de pessoas como nós, que foram batizadas no Espírito e foram transformadas pelo poder da Palavra de Deus. Você está disposto a isso?
Marcos Volcan
Presidente do Conselho Nacional da RCCBRASIL